Mário Mesquita, ex-diretor do Banco Central é um dos poucos que aponta o cenário do próximo ano com muita propriedade e pouca divergência com a minha opinião. Ele disse na entrevista do Estadão que a sociedade não aguenta 12 meses sem coalização, se referindo ao momento político. Segundo ele, "a crise econômica não está nem na metade", pois o PIB deverá continuar em queda no próximo ano. Veja o que ele disse: "nem a metade".
Como eu não tenho nenhuma expressão política, devo procurar tese semelhante sobre o cenário econômico, no meio de muitos que não tem clareza sobre suas posições diante das suas próprias sobre a política econômica equivocada do governo Dilma. Disse ele: "Se eu tivesse no Banco Central hoje, pediria renúncia imediata", diante do cenário muito difícil para o próximo ano. Ele quis dizer que o País passa por momento delicado.
Daqui em diante, traçarei o cenário da economia para o próximo ano, 2016, com alguns pontos concordantes e outros nem tanto, mas na mesma direção do diretor do Banco Plural, Mário Mesquita. Nada combinado, portanto ele não é obrigado a concordar comigo. Eu é que concordo com muitas posições dele.
A prévia do IBGE está apontando a inflação do ano de 2015 em 10,8%. A taxa básica de juros Selic está em 14,25%. O câmbio encostando nos R$ 4. Desemprego, oficial, próximo de 9 milhões dentro do cenário em que a população economicamente ativa desocupada está próximo de 20 milhões. Com tarifas administradas, ainda com resíduos para serem ajustados em 2016. Politicamente, governo está sem apoio no Congresso Nacional para aprovar quaisquer medidas de ajustes de impacto. Isto é o cenário atual.
O recém nomeado ministro da Fazenda, promete reforma estruturante na economia com a reforma na previdência e reforma da legislação trabalhista, como preliminar para o seu plano de desenvolvimento. Em tese, o Nelson Barbosa tem razão. Porém, com governo Dilma, sem apoio popular e apoio no Congresso Nacional, dificilmente conseguirá a aprovação, sem que haja muitas concessões. As concessões acabará anulando o efeito desejado do objetivo principal. Vamos torcer que isto venha a ser concretizado e que as reformas não sejam apenas "maquiagens", mas que sejam "estruturantes". Mas, diante do quadro político, duvido que os ajustes pensados pelo Nelson Barbosa sejam vitoriosos no Congresso Nacional.
O meu temor é que o novo ministro da Fazenda Nelson Barbosa é da turma da "gastança" desenfreada. Ele pode tentar voo da galinha. No quadro em que a inflação está no patamar de dois dígitos (10,8%) numa curva ascendente, qualquer tentativa de "gastança" ou alargamento da base monetária, a curva da inflação que já está ascendente, poderá se tornar uma curva em forma de "espiral". A espiral inflacionária sabemos onde começa (10,8% ao ano), mas não sabemos onde termina (Plano Cruzado: 80% ao mês). Isto é maior temor meu, Brasil mergulhar, novamente, na hiperinflação dos tempos do governo Sarney.
Pela cabeça de "bagre" do Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, onde a política monetária se baseia na fórmula clássica de combate à inflação preconizada pelo FMI. Isto é outro temor meu. O Banco Central deverá elevar a taxa de juros básicos Selic nas próximas reuniões, com objetivo de combater a inflação. A taxa básica de juros reais ficou entre 4% a 5%. Seguindo a trajetória, a taxa Selic deve terminar em 14,75% ou 15%, salvo mudança da regra do Banco Central. Isto é tiro no pé. Nesta fórmula está o equívoco da política econômica da Dilma, que venho denunciando desde início de 2012.
A alta da taxa básica de juros, embora respaldada na fórmula clássica do FMI, não contém a inflação que está no patamar nas alturas como a nossa. A Turquia e a Rússia padecem do mesmo mal. A taxa básica Selic, numa economia com inflação alta, acaba tornando a economia indexada, formal ou informalmente. E a economia indexada causa inflação inercial. A taxa de inflação anterior acaba influenciando na taxa de inflação do mês seguinte. Resumindo, a taxa básica de juros Selic acaba realimentando a própria inflação. Isto é "tiro no pé". Isto é política econômica equivocada, que é defendida por muitos analistas econômicos, salvo Mário Mesquita.
A tentativa desesperada da presidente Dilma, de quebrar a tendência do quadro de depressão, com o aumento do consumo ou seja com a expansão da base monetária, vai tornar a economia insustentável, no médio prazo. Dilma poderá tentar a última cartada que é a "valorização do real" e a "expansão do crédito", para aquecer a economia. Isto é como jogar querosene (expansão da base monetária) na fogueira (inflação de dois dígitos). É a última cartada da Dilma para permanecer no poder. Mas quem paga o pato é a população, novamente.
Sem o controle da inflação, no patamar da meta de 4,5% do Banco Central, não há condição para "surto de desenvolvimento". O projeto do Nelson Barbosa, "gastador", será como voo de galinha. Certamente, o destino será ir para a panela. Ante, Dilma e Nelson Barbosa na panela do que a própria população que não tem nada a ver com a pretensão pessoal de ambos, pretensos "salvadores da pátria".
Coloquem esta matéria no arquivo do seu notebook e me cobrem, se eu tiver errado, daqui a seis meses. Infelizmente, como estivemos diagnosticando corretamente há quase 4 anos, o presente diagnóstico tem tudo para acontecer. Prefiro a galinha Dilma na panela do que o povo vire a galinha da festa do final do ano.
O voo da Dilma é de galinha!
O voo da Dilma é de galinha!
Ossami Sakamori
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